“Alevantados os currais e situadas as fazendas, o rastro-fêmea do boi pisava os chãos enladeirados daquelas lonjuras, fazia veredas no rumo das melhores pastagens e nos caminhos das bebidas. E de ferra em ferra crescia em cabeças, pois bicho que mija pra trás é que empurra o dono prá diante – como sentencia a sabedoria sertaneja…”
(Os açudes do sertão do Seridó-p. 16).
Aridez, a rudeza aparente, é no descortinar do viver que sobriedade matuta aparece, o alvorecer na humanidade sertaneja.
O sertão se confunde, habitat habitante, concretizam saberes, crenças, o rudimentar lidar da vaqueirama, ver rastejar, o princípio, a origem do homem na sintonia com seu chão, sua gênese. Campo fértil e amplo incentivo à um imergir, prece, canto ou aboio que se constrói caminhando.
Cortar veredas e encontrar os tempos idos em dizeres tidos, a posse da palavra como legado, marca de um povo, de sua origem. O pertencimento, a coisa elementar da alma errante, os caminhos diversos se propõem quando penso Oswaldo Lamartine. Ele, sertanejo forjado a mais profunda raiz seridoense, feito brasileiro destas terras vastas a explorar, a viver o Rio sem deixar seu lugar de morada afetiva.
Eu, menino do Rio de Janeiro, levado as terras dos Reis Magos fui bebendo desse toar mandingueiro, deixando mudar encontrando a Caatinga e aos poucos arriando arreios no cada cercado que se cria contos. Muita coisa me pereceu cruzar períodos, sentimentos, temporalidades. Não há comum na vida de quem percebe o próprio rastro.
Fizemos caminhos que apesar de diferentes, em algum momento se cruzou, afetado lancei olhar sobre seu legado.
Há muito o que defender desta terra e a Obra de Oswaldo Lamartine é uma espada!
Sertão tira o lugar da obviedade as vezes apática dos arranjos sistematizados no cotidiano urbano, quando se chega a campo aberto, o Sertão entra na gente, reformulando sentidos propõe imergir no Sertão de nosso íntimo.
Pudéssemos reconstruir nossos castelos, porém, talvez melhor seja, edificar sem sombras sobre a memória e os exemplos, toada para a consequência dos atos de mais que muitos, que vivos são os ensinamentos.
O rito de se ver e de perceber as nuances que se propõe a vida como fonte inquestionável de encontros e desencontros que nos entregam as possibilidades como dádivas, recebê-las, matura-las, refletir o lugar de fala e o encantamento visitante da cultura em sua forma elementar, primeira e fundante.
De certa feita somos história de se atravessar, contextos e geografias que mobilizam abordagens, a partir do que no apresentar o mundo que vivemos, o que vivenciamos constrói nossa contribuição participante. Conhecer transpõe o tempo decorrido em pele e osso, quando um sertanista arreia seu legado sobre o mundo, cria um porto para quem não deve se perder das origens.
Vlademir Alexandre
Deixe um comentário