Não acabado, viver é continuidade, movimento, se perceber e perceber outro lugar, correr campo aberto de plantações, geografias humanas que se afastam do cotidiano das cidades, por certo é que podemos entender melhor o lugar aparente estranho, quando estamos nele, porém, é de permitir que todos os censos nos ampliem a capacidade de apreensão. Descobrir as nuances das diversas expressões humanas e naturais, ouvir, sentir, experimentar, refletir.
As condições para entender o processo de imersão quase sempre imprescindível a um encontro com um lugar fora, que em algum ponto permite olhar para dentro de outro ângulo. Nasce aí a construção do olhar inteiro, entregue a uma sensibilização promovida intensa e possível de ser e afirmar identitária, bela de uma propriedade intelectual afirmativa.
O litoral posto que olhado de dentro dele e da gente, esse foi o desafio proposto.
Nada está garantido quando se entrega a sorte do caminho desconhecido, porém, o caminho é sempre o que mais nos aponta quão rico é sair do lugar comum na obviedade segura, da mesmice.
O que volta, não é apenas o que vai conosco, nos torna abastecidos de preciosos sentidos reformulando as experiências com a bagagem que cada um se propõe carregar.
Aqui onde chegamos, as margens do mar, adentro o sertão, ouçamos o ato arado e dedicado a terra para alimentar e produzir, a condição humana, coletiva e solidária, assim, nos propusermos a abrir nossas sempre ansiosas expectativas de construção do olhar íntimo e da aprendizagem, do pensamento a partir da narrativa fotográfica a outros que possam e queiram um mundo além do imediato. Como falar não apresenta em si só possível em dar conta da experiência. Abrimos a porta de nossa vontade de compartilhar essa construção imanada de possibilidades enriquecidas na coletividade.
Retomamos assim um projeto que ficou no tempo de sua maturação concedendo a cada um de nós os motivos de entender a importância de continuar a caminhar.
Para tanto nos propusermos aos desafios da convivência, foram 24 participantes acreditando no espírito proposto pelo coletivo Fixar de cortejar o incerto sem se perder do princípio e como amantes da imagem, nos permitimos as benesses de estar com a parceria da Urca do Tubarão como mais que um lugar de descanso, um ponto alto em experimentar um acolhimento com tantas particularidades especiais.
Nosso almoço com alimentos, todos de produção agroecológica, livre de defensivos químicos, produzidos pelos camponeses do MST nas terras do assentamento Maria Aparecida e ao som de um trio de forró de Dex do acordeom, ainda, com a participação sempre marcante do Duda da boneca, membro do coletivo Fixar e enriquecido com um bate papo sobre a luta pela terra no sentido de entender os princípios desse movimento social e a convivência com a região.
Saímos cada um com uma semente de saber no lugar que define o que quase sempre nos apontam a distância.
Ainda, e por que não viver o calor emotivo que um pôr do sol em Tourinhos, proporcionar o que todo corpo pede e o que toda mente almeja quando deixa suave o brilho da manhã banhando de luz a língua do mar, que nos banha, que nos encanta contemplar.
Nossas buscas de surpresas programadas encontraram na manhã seguinte a caminhada como exercício do olhar sobre a busca de animais silvestres, e de construir novos olhares sobre a fotografia de paisagem, vendo as nuances mais sútis as coisas de fora mudam dentro de nós.
Retomamos lindamente o projeto de expedições fotográficas, peito cheio, cabeças leves, corações a pleno pulso, uma sensação de acolhimento coletivo uma fotografia que nasce antes do clique e encontra para a memória dos momentos e das coisas um suporte a fixar.
Vlademir Alexandre
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